quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

O Tempo

A vida é muito pequena para estares preocupado com tudo isso que chamas de preocupação, e nem te preocupas em saber o que isso significa afinal, se é que isso tem sequer qualquer significado. Viver pode ser muita coisa… uns vivem á espera que a vida acabe, outros estão á espera que ela comece. Foi o tempo que aqui nos trouxe, e será ele que daqui nos levará. E o tempo vai-se-nos sendo dividido por momentos, os momentos em que nos deixamos ser quem somos. Aqueles momentos em que deixamos escapar uma palavra, um olhar, um sorriso, um gesto, uma expressão que não devia estar ali, que não queremos que esteja ali, não assim dessa maneira. Porque dessa maneira vai haver sofrimento, vai haver dor, vão haver coisas que ninguém quer que hajam. Para o tempo nos transportar, temos de deixar muito daquilo que pensamos ser nosso, mas que é do tempo e que se perde com ele. E o que custa sempre mais é admitir que o tempo já o levou, e que já fomos permitindo que ele nos levasse para outro lado, para outro sítio, para outra forma de nós, porque no tempo fomos tendo cada vez mais momentos nossos e não do tempo. E vamos começando a chamar ao que é nosso de passado, e assim nos deixa de pertencer, passando a ser do tempo que foi, e que nos leva para o que será. A cada minuto, cada vez mais nós. A cada segundo, cada vez mais aqui. A cada dia menos somos o que fomos. A cada dia mais nos afastamos de qualquer coisa que fomos, para ser mais nós. E a cada mês que passa mais perdemos o que nos pertence, em detrimento do que nos, cada vez mais, vai pertencendo. Assim, ganhando e perdendo, vamos sendo sempre nós, vamos continuando sempre com o que dizemos ser nosso, vamos continuar. Porque a vida é a continuidade de tempo. E o momento… o momento somos sempre nós – fomos sempre ele.

domingo, 12 de dezembro de 2004

Eu

Eu não sou Eu Social,
O Eu Social é que é Eu.
Viver é morrer mal,
Morrer é viver no Céu.

Se vivemos todos no instante
Em que a morte ainda não veio,
Morremos todos a meio,
De uma vida insignificante.

Deixamos da vida metade,
Sonhos, futuros, inexistências.
O resto que deixamos é verdade,
Memórias, panos, vivências,
Fazendo de tud’isso saudade.

Mas se em flagrante delito,
A vida nos é amputada,
De que nos serve este rito,
De procurar destin’aflito.
Um sino que toca é nada.

Mas se eu me distingo
Entre o que sou e procuro.
Então eu sou o que ligo,
O presente ao futuro.
Um futuro que instigo.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Virei costas a mim próprio

Virei costas a mim próprio,
E vi-me partir a mim,
De principio achei impróprio
Deixar-me partir assim.

Não fui atrás de mim, esperei
E enquanto esperava me vi partir sem rumo,
Certo do destino e do caminho, fiquei,
Pensando em mim, no encontro me sumo.

Olhei, e vi que não via
De mim nem sombra ou sinal.
Se a vida é assim fantasia,
A quem pertence afinal,
A vida que eu daqui via?

Esperando me encontro no meu desaparecer.
Sendo o tempo da vida, ou o tempo de si,
Onde o sentimento pensa em ser,
E o pensamento sente o que vi,
O desespero de a mim me ver.

Mas se eu sem me ver me sinto,
O que é estranho, simplesmente,
É que eu sinto estranhamente,
Que eu estranhamente me minto,
Um de mim a mim me mente.

Acertando o passo comigo,
Olhando eu duas coisas opostas,
Eu conversando-me como amigo,
No entanto me viro as costas.
Porque a vida que eu sigo,
Eu que ali vou, não ligo.
Tu que aí vais, não gostas.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Quando o que vem, vem de lado algum...

Não nasci ontem. Nasci na remota peça imensa de tempo que extravagantemente se consumiu segundo a segundo. Milhares de segundos passaram desde esse instintivo momento em que olhei para este mundo. Sentir? Senti de certeza – e não foi pouco. Senti as profundezas da beleza, as imundices da tristeza, as provocações e a intermitente tentação cinestésica atractiva. Orgulhosamente sinto por este estádio sadio de pensamento meneável a ostentação de um fado dúbio que me simplesmente maravilha. Quando me lembro do quanto eu queria voar, penso no quanto agora voo e vejo a diferença – quando o queria, para além de não o ter, não sabia o que era e só usufruía do engordurado sabor do desejo; agora voo pensando que apenas penso voando e sei, sei com certeza, que a vida está aqui, onde eu estou voando. A vida são dois dias? Não, são duas metáforas embrulhadas em papel de sinestesias com um cartãozinho escrito com tinta disfórica. Ah, sonho! Quanto do teu material foi encontrado por estas ruas, mas nunca estas ruas conseguiram utilizá-lo como tu. Como tu és tão bom ó sonho! Como tu és tão certo e conforme. Como tu és real, ó sonho. A realidade? Esta, não, não veio para ser fantástica, veio para esperar por ti, aqui. Tu, sim tu ó sonho, tens de ser o magnifico, para magnificar a realidade. Ó realidade, realiza-o. Realiza o sonho que se te depara. Sonhar? Só mais um bocadinho, depois que todo o horizonte seja real. Construo, quem não constrói? Também, toda a construção tem pontos comuns, mas nem todas as construções são iguais. Há construções que são uma merda pegada. Depende da forma de construir, não é? Quem não quer, que pelo menos não destrua a construção dos outros, que eu não ando para aqui a construir coisas para que um palhaço qualquer venha para aqui destruir o que é meu. Quem quer saber das tuas queixas, afinal, elas são tuas e não minhas, não é? Hein? Á espera do quê? Não constróis aí, constrói ali foda-se! Queres perder tempo para ganhar o quê? Isso não dá nada. Corroam-me, corrompam-me, isso! Venham, todos juntos e mais os vossos sindicatos. Manifestem-se, avante! Contra mim e contra os que estão nas minhas costas e na minha fronte, que eu pá, eu? Eu estou no meio. Nem vejo o que há lá para trás, nem o que há lá para a frente! E no meio de tanta confusão, da confusão que vocês fazem, nem o que está aqui ao meu lado eu compreendo. Que se lixe! Amanha é outro dia, não será? Sei lá… o que tu esperas de mim, porque o que eu espero de ti é mais do que eu espero que tu possas esperar. Quero-te muito, a sério, para que ter de passar por tanto quando eu sei o que quero? Se me enganar tanto me engano agora como daqui a 2 horas, afinal 2 horas não transluzem nada que possas esperar que transluza. Tu sabes jogar? Ah, eu também. E os dois jogamos de maneiras muito iguais, melhor assim que assim mais tempo dura o jogo. E quanto mais jogarmos mais transluzirá, e quem perderá? Ah… sei lá… Serás tu, serei eu? Nah… ninguém perderá, os dois ganharemos nem que sejam 2 horas de experiência no jogo. E pode ser que no fim eu já nem te queira – pode ser mesmo que te ame.
Dá-me a impressão de estar a falar sozinho. Mas não, afinal de contas nem estou a falar. Melhor, que assim estamos os dois calados. A ouvir-nos um ao outro. A ouvir-nos cada um a si. Mas é pena que agora me adormeceram os dedos!

domingo, 28 de novembro de 2004

Não me lembro de escrever isto...

Ainda ontem os pássaros sobrevoavam nuvens erróneas
Hoje é mais um cigarro que se ardeu nas mesmas cinzas
[incorpóreas
O chão que pizas
Personagens que idealizas
Observações que frisas
E insistes em conceber mais um mundo, mais um céu
Mais um Juízo sem juízo, mais banco que réu
[concebido
Provavelmente és mais um sonho embebido
Num mundo sem céu, desprotegido

sábado, 27 de novembro de 2004

Antes do Amor


Porque é que tens tanta pressa em me amar. Perguntaste-me tu. E eu respondi, mas antes, pensei. A primeira coisa que me veio á cabeça foi o óbvio, porque não há tempo a perder, e não há! Mas seria uma resposta demasiado apresada com o intuito de apenas apressar o nosso amor. A pressa não é minha, é do amor, disse-o eu depressa e bem. E tu ignoras-te o nosso amor, e beijaste-me com o nosso amor ali mesmo ao lado a planar. E enquanto ele planava pensava na falta de amor que cabia ali. É que cabia mesmo pouco, porque foi um beijo rápido, seco, e tu como o beijo foste-te embora com a desculpa de uma coisa qualquer, mas que pelos vistos, mais importante que o nosso amor.
Passei a tarde sentado na esplanada a pensar no nosso amor ali a planar ao nosso lado, enquanto tu me beijavas. E eu perguntei-lhe ao nosso amor, o que é se passa afinal. E ele não respondeu, mas não um silêncio de quem não sabe, mas um silêncio cheio de sabedoria. E eu, nesse silêncio, vi o que o que nos falta é o aroma cintilante de um silêncio anestésico. Um ver desfocado de um ruído longínquo, e claro, um puxar impulsivo e magnético. Tudo isto é muito fácil de descobrir e de se desenhar numa folha. Mas se o amor coubesse numa folha passaríamos a fazer das pessoas meras suposições e das folhas certezas. O amor é uma coisa que cabe ás pessoas, não ás folhas, as folhas são meros tapetes voadores para viajar na memória e nessa certeza incerta de querer amar. Se é a falar que a gente se entende, é a escrever que a gente se encontra. E eu encontrei-te por aí, perdida nas entre linhas de uma folha especial.
Será que tu sabes amar? Ou será simplesmente amor o que sentes sem o praticares comigo? O amor é sempre dicotómico, bipolar, unidireccional, o amor tem sempre o amar e o não amar num só. O amor é um conjunto de paixões indecisas, de fracções imprecisas, de embarcações e brisas, de montes e névoas, de pontes arquitectadas sem réguas, de amantes e amadas, da jusante escapada em rumo ao horizonte em que me esfumo.

Não entres desprotegida na estrada da vida

Está um frio que congela. Tremo mesmo de frio. Porque estou cá fora, fora de ti, longe de ti, sozinho. Gosto de me recordar que existe algo no fundo de mim por dissolver nessas águas que se foram acumulando em mim. Corre agora fervorosamente por todo o meu corpo uma vontade indómita, instintiva, como se o meu ser sofresse de inadaptação ao tempo e espaço que o percorre e corrompe. Agacho-me, enrolando o meu corpo. Corpo, mente, coração, alma. Tudo somente nomes. Somente nomes aos quais nos habituamos e pelos quais dividimos o nosso corpo, porque tudo é corpo, não adianta contrariar uma verdade tão compulsiva. Para quê arriscar? Para quê? O que me darão em troco por pensar, sentir ou premunir? São tudo trocos que não movem mundos, porque aos mundos pouco lhes importa que esses pedaços ínfimos de poder não se movam. A quem lhe importa o que sentes ou o que pensas? Achas mesmo que isso vale alguma coisa? Claro, se lhe deres uns retoques para que caiam lágrimas até pode valer, caso contrário são meras birrinhas tuas, meras perrices ilógicas. Será que te sentes mesmo atraída para esses pródigos consultórios sentimentais? Ou serão somente os factores atenuantes da tua falta de lógica, sentido e desvirtualização do ser. Sabes quando te agarras ostensivamente a um suporte para manteres o equilíbrio num autocarro. Ou mesmo o cinto de segurança num automóvel. È isso que a vida pretende, que o contacto directo seja atenuado e estejas protegido. Viaja, sim, pela mente através do sentidos. Ver será sempre com os olhos, mantém o equilíbrio, não saias do automóvel enquanto percorres a estrada da vida, todas essas virtudes que encontras no ambiente condicionado, toda a segurança prometida se evapora quando entras desprotegida na estrada da vida. Porque eu amo-te, e não te quero perder por estúpidas tentações de sentir mais que o sentimento faz sentir, mais que o que a vida permitir.

sábado, 28 de agosto de 2004

Espada que quebra não fere
Quando te perdes na febre,
Num rodopio de imagens,
Milhares de locais e passagens
Inidentificáveis,
Quero, mas não são enquadráveis
Nestes momentos de lágrimas frágeis.

Cai, gota a gota, no chão molhado,
Cai, e desaparece, cansado,
Exausto,
Insanidade do anjo no holocausto.
Quando a verdade existe, mas não vem,
Quando a sanidade está por um riste,
E nós também…

Tentei, eu juro, e foi com muita calma,
Bem calma, a situação da alma.
De palma a palma, de orelha a orelha,
De boca a boca, sufoca a ovelha
Que te dá a lã para te aqueceres neste equador da mente,
Mas ela é fã dos saberes do amor inconsequente.

sexta-feira, 27 de agosto de 2004

"Numa mão sempre a pena e noutra a espada"

Numa mão sempre a alma, na outra o pecado
Numa mão sempre a calma, na outra o fado
Numa mão sempre o naufrago, na outra o naufrágio
Numa mão sempre o mago, na outra o presságio
Numa mão sempre a beleza, na outra a mágoa
Numa mão sempre a tristeza, na outra a lagoa
Numa mão sempre a luz, na outra a palavra
Numa mão sempre a cruz, na outra a sombra

Numa mão a água, na outra papel
Numa mão a mágoa, na outra o mel
Numa mão, a vida, na outra a morte
Uma mão decidida, a outra à sua sorte

quarta-feira, 25 de agosto de 2004

Uma outra lua

Apaixonar-se,
Dás-te conta do que se passa?
Não faz sentido, disfarça.
Um príncipe e uma princesa,
Numa historia de encantar
Sem acabar, no eterno, sem o inferno vir?
Amar é uma história, na realidade é difícil
Amar é memória, com saudade… é um míssil

Amor / Amante
Que te ataca, destrói
Que te penetra, corrói
Amor, voa, não voltes
Amor?... Não o soltes!

Num mundo onde toda a palavra rima, mas nenhuma faz sentido,
Escuto ao longe uma luz que se traduz, indefinido
Sacio-me com palavras, que na ordem certa matam a fome.
Ganho toda a visão, solto o grito, é o teu nome...

Não tenho mundo, o processo o procura
Não tenho doença, mas quero a cura
O tempo perdura e não cura, fere
O pensamento, lento, de sentimento não requer

Não importa o que eu digo
Não importa nada do que eu falo
Mas quando eu faço, e consigo
O importante não é sonhar, é alcança-lo
Mais que um sonho, um ideal
Mais que um ideal, um final… feliz?
Quem sabe se foi, foi como Deus quis!

Rimo, é verdade,
se faço sentido, quem o sabe?
Talvez o faça e a realidade não o adapte,
porque é um coração distinto que bate.

É outro sinal que se alcança.
É outra voz que dança
ao som de uma outra lua,
de um outro silêncio,
talvez seja tua,
se o é, vence-o.

Auréola da vida

Alvíssaras aos fantasmas que te observam
Desde outro mundo onde te reservam
Todos os privilégios, num céu além
No Sacrilégio que te encontra em bem

Abram caminho, caminha o cavalo sozinho
O cavaleiro, o verdadeiro, adormeceu debaixo das nuvens
Onde te encontras, Ó Grande? Porque não vens?
A coroa não faz o príncipe!
A ave voa, que o vento a cite!
Que o alcance o brilho da estrela!
Que não cante a malvadez tão bela!

A mãe chora…
A sua princesa mora na torre mais incansável!
A chama acesa dança, consumindo-se, instável.
Rei e Reino procuram na natureza o sobrenatural,
Chamando a si aquele que fora de si se vale…

Está morto!
Está morto!
O Cavaleiro é só já corpo!
Está morto!
Está morto!
O Cavalo corre absorto!

O anjo e suas asas submetidos à convalescente fé,
Agora sua princesa voa como um anjo que não é.
Bela à luz da lua, una com o vento,
Cavaleiro à vista do sentimento.
Ao toque fez-se luz!
Ao toque fez-se luz!
E num beijo se traduz…

O Cavaleiro renasce!
O Cavaleiro renasce!
O Cavaleiro é o Príncipe, é imortal!
A coroa é a auréola!
A coroa é a auréola!
O Príncipe renasce na auréola da vida!

Abram caminho, o cavalo não vai sozinho
O cavaleiro, o verdadeiro, acordou acima das nuvens
Ó Grande para sempre aqui, entre nós!
O povo não quer a coroa, quer a voz!
A ave poisa, no ombro!
A estrela ressuscita o sol, do escombro!
Canta eternamente ao vento a nossa gente!



Eterno cavaleiro!
Feliz para sempre!
Inferno verdadeiro!
Aprendiz na mente!
Corre!
Corre cavaleiro!
Não morre!
Morre, Verdadeiro!

Ele sempre esteve vivo…
Ele sempre esteve morto…

quinta-feira, 29 de abril de 2004

Um ser

Encosta para traz o pescoço,
Adormece, lento, vento grosso.
Sou eu e quem mais havia de ser?

Um ser.

Regressa para os meus braços,
Na ampulheta os minutos de paixão escassos,
Vejo-te a ti, sem mais ninguém para ver.

Um ser.

Aprecia a natureza, tudo é uno,
Tu, a supra beleza, ávida Juno,
Completa todo o ser, o ser natura
Alma há só uma, e é pura.

Mais que um ser,
Não sei defini-lo…

domingo, 18 de abril de 2004

Poesia de café...

Ai... Como vejo o horizonte não sei,
Mas o chão que piso, chão sem rei,
A arte foge-me das mãos, é incorpórea.
As mãos da arte são, em vão, memória.

Cubro a solidão com meu manto,
Ao rubro da respiração, choro num pranto.
Moro no canto da palavra austera,
Na voz sobrenatural que a natura espera.

Voo baixo terra, caminho na atmosfera.
Sou o silêncio inaudível da tua esfera.

É tão doce que em vão adormece, sonho não vem,
Realidade não tem,
Caminha na inexistência,
Pisa a linha inaudível da demência,
Respira o ar visível da consciência,
É a ira risível da existência,
É o conforto inconformado da experiência,
É o limite da liberdade da dependência,
Sem influência, pai ou filho, sem conta.
É a unicidade, o zero, que não se encontra,
Que foge dele mesmo para ele, não é nada é tudo.
É o grito insípido, da voz de um mudo,
Não é um ser, é um mundo
Sem ser.
Não é o ver, é a visão
Cega.
Não é música, é letra que nega.
É o idioma comum, mas nunca dito,
Sentido num só sentido, sem voz, só grito.

Não inspirado, é inspiração que nada serve,
Apenas seu coração, sem sangue, pois sangue ferve.
A consciência, essa pereceu agora é arte
Do mecanismo cíclico de que sempre fez parte.

Não é matéria, é mistério
Como miséria, séria, sem cemitério.
Sem critério, sem final,
Fim ou meio, é o oculto do natural,
Sub natural, sobrenatural.
É bem e mal ao mesmo tempo,
Fora de tempo,
Ou pensamento.
É o momento em que me encontro em ti.
É a verdade que engana, que eu engoli.
É simplicidade confusa,
É a maquiavélica musa,
É uso que do desuso não se usa.
É aquilo que do nada abusa,
Reclusa de liberdade que obteve,
Água que afoga, não mata a sede.

É invisível, inalcançável…
Morte saudável…
Oh, sorte afável!
Beijo de almas…
Canto de salvas!
Suor de palmas…,
Juntas numa só!
E acredita que toda a matéria é pó
Na eternidade, no infinito…
É palavra que não existe, tão só num grito!

Como um fantasma, crença da loucura!
Do demais fere, mas também cura…

quinta-feira, 15 de abril de 2004

Atrás de uma janela
Dentro do secretismo da cela
Bela mas que prende, fecha
Disposto no sonho que a realidade não deixa

Queima a fogo lento
Fumo de lentidão do pensameto
Corre em qualquer sentido
No destemido grunhido da solidão

Tão quente
Vão, fria, de repente
O que não sente, mas implora
O indiferente que sem lágrima, chora.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

O Sonho

Abraça-me, agora, preciso de ti!
Aqui, sim, sem mim o fim, vem.
Não é ninguém…
Basta a nefasta situação degradante,
Bate na cabeça um coração pensante,
Sinto (minto). Penso (venço)... Oh, dispenso.
Mas quero, fica, permanece!
Vai, volta, como a revolta se esquece.
Não te perco
Isto não é um cerco
Estás perto
Fabrico de saliva num sorriso deserto
De palavras
São situações… parvas
As ambições movem
As traições comovem
As visões que se dissolvem…
Que é isto? Eu não insisto… Ok?
Já dei, o que tinha para te oferecer
Não é pela pica, mas fica no prazer
Até ao anoitecer
E o que pode acontecer?
Der no que der… eu confio!
Eu sorrio, quando a sorte desafio,
Está frio, é sombrio,
Mas pode ser reconfortante
Não te percas numa estante,
Não sejas distante.
Está diante de ti
A oportunidade que vi
Vim… venci!
Era sonho? Olha como me ponho!...
Não, não e não! Se te apanho!
Coração!?... Filho da puta!
Doces sonhos… à bruta!

"

terça-feira, 20 de janeiro de 2004

Um ponto final

Um ponto final no final inatingível.
Mas quando a força é inextinguível
o êxito atinge-se sem qualquer problema.
Obrigado pela inspiração nesta vida pequena,
que muitos criam,
que muitos procriam,
que muitos adiam,
focam o futuro
procurando destruir o muro
para atingir o louro.

Mas onde se encontra o ouro?
Estará além montanhas,
a felicidade, estará em paisagens estranhas?
Que são estas sensações nas entranhas
do meu ser?
Serão o desgosto de não poder ver?
E aquele que não quer ver?
E o adjectivo bem?
E o objectivo sem
pisar ninguém, será que existe?
Ou para minha felicidade tenho de pôr outro triste?

É a inveja, é o ódio,
a raiva de não atingir o pódio.
Qual é a cura,
haverá alguma fase segura?
Incerto como encontrar uma pessoa pura.
Mas pode estar perto…
E a incompreensão na comunicação?
Culpar um dogma, uma lei, uma perspectiva…
Mas sem rei a batalha deixa de estar viva.
Sem batalha falha a força e o itinerário,
“é melhor deixar de ser que deixar de ser revolucionário”.

***

Em nome da humanidade,
lanço quando alcanço,
mais uma verdade.

É necessário o regresso lendário
de uma causa,
de uma pausa ao vário,
disperso, precário de inverso, inaceitável,
com objectivo pouco saudável,
qual é a provável paragem do que movimentamos?
O mundo é aquilo que todos nós recriamos.

***

Sai puro o futuro que se antevê no muro do porquê.
E quem não sente? E quem não mente?
É transcendente a poesia quando sai.
É imprudente como a fantasia quando cai,
na realidade alegórica.
É melhor deixar de ser que deixar de ter retórica.

É a comunicação, em acção numa canção
a fomentar cada parte de toda uma revolução.
É assim que são, todos aqueles cujo coração
se mostra transparente,
poder físico ridicularizado pela mente.

É mesmo assim que se faz, a paz?
Fazer com que o outro se rebaixe?

É assim que esperam que eu me cegue, e deixe,
a minha vida à mercê daquele que diz que vê,
que diz o quê?
Eu fiz o quê?
É esse o porquê…
Que queres para eu te poder trazer de volta?
Qual é a verdadeira receita da derradeira revolta.
Será que há escolta, ou de repente ‘tou sozinho?
Será que serei o único que não perece no caminho?
O que parece este quadro que por momentos visualizo?
Será que um dia chegará o tal aviso?
Mas eu não quero ser um mero motivo de riso,
o ultimo a rir serei eu quando o sorriso
de todo e cada qual ele, quis mal a tudo o que eu crio...

(...quando tudo o que faço eu não copio.)

É assim que nós fomentamos,
quando lhe damos com palavras puras, não macabras,
mas a situação vai ser fodida.
Cuidado porque é efémera a tua vida.
O tiro sai, e dispara, na tua cara, cabrão!

Tentas conter a vontade da sociedade,
cortas a verdade e esperas que não nasça,
a revolta que te descasca e ficas nu perante o mundo inteiro.
É que aí nem coberto de dinheiro, porque isso não importa.
Ninguém compras quando ninguém se vender à tua porta.

É mesmo assim que ficas, desfigurado pela verdade que desfiguras.
Aos olhos de todos escondes as almas puras,
aos olhos de todos escondes as escrituras.
Todos os que ouvem percebem,
os vossos fins não justificam os meios,
Cuidado com os recreios enquanto eu vou 24 horas.

***

Cuidado Homem, porque também choras.
E tu decoras o discurso
para definir o decurso
do percurso de milhares.
Mas cuidado com os olhares,
aí vê-se tudo. Podias até ser mudo,
percebe-se o que pretendes.
Cuidado, vê lá se não nos ofendes.
Não é exibição, é função de todo o humano
perante a humanidade.

Mano a mano, nasce o círculo da verdade.


(Versão definitiva, composto de fragmentos desde 2003.)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2004

Consciência que esmorece

Eu amo-te, não to posso dizer
Tudo ter. E deitas tudo a perder.
Porque será que as pessoas se perdem
Num cruzamento de pensamento? Observem,
Eu não consigo apaixonar-te,
Não és a minha arte,
Tu magoas-me com golpes profundos,
Invisíveis mas dolorosos, quebram mundos,
Cabeças, corações com convicções pouco convictas.
São pensamentos em cruzamentos que incitas,
Sentimentos em que aflitas as vozes choram
Em palavras que coram, que demoram,
Quem moram na cave do pensamento:
O sentimento.

Não te posso amar, mas eu amo-te…
Então que posso fazer?
Amor proibido por um orgulho ferido,
Por um mergulho num sonho diferido,
Num mundo imundo, no fundo tu amas-me,
No mesmo fundo em que todos somos bons,
No mundo onde as flores crescem a mais,
Mas neste o reflexo é de flores artificiais,
A tua vida não te está destinada, fada!
Permite-me que to chame, fada, sim, fada que não socorre,
Enquanto fores possuindo, a minha esperança não morre!

No fundo de uma caixa,
Saiu um dia uma faixa
De luz que não conduz, destrói
Mas que dá prazer… e corrói.
“Pandora”, “Hearth Shaped Box”,
O amor na mente é paradoxo.
A felicidade subsiste da infelicidade,
A amizade subsiste da inimizade,
Então a verdade subsiste da mentira
Para possuir teu corpo, mente, paz e ira
Sem que ninguém se fira, abandono acontece.
É a prevalência da consciência que esmorece.

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