quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

O Tempo

A vida é muito pequena para estares preocupado com tudo isso que chamas de preocupação, e nem te preocupas em saber o que isso significa afinal, se é que isso tem sequer qualquer significado. Viver pode ser muita coisa… uns vivem á espera que a vida acabe, outros estão á espera que ela comece. Foi o tempo que aqui nos trouxe, e será ele que daqui nos levará. E o tempo vai-se-nos sendo dividido por momentos, os momentos em que nos deixamos ser quem somos. Aqueles momentos em que deixamos escapar uma palavra, um olhar, um sorriso, um gesto, uma expressão que não devia estar ali, que não queremos que esteja ali, não assim dessa maneira. Porque dessa maneira vai haver sofrimento, vai haver dor, vão haver coisas que ninguém quer que hajam. Para o tempo nos transportar, temos de deixar muito daquilo que pensamos ser nosso, mas que é do tempo e que se perde com ele. E o que custa sempre mais é admitir que o tempo já o levou, e que já fomos permitindo que ele nos levasse para outro lado, para outro sítio, para outra forma de nós, porque no tempo fomos tendo cada vez mais momentos nossos e não do tempo. E vamos começando a chamar ao que é nosso de passado, e assim nos deixa de pertencer, passando a ser do tempo que foi, e que nos leva para o que será. A cada minuto, cada vez mais nós. A cada segundo, cada vez mais aqui. A cada dia menos somos o que fomos. A cada dia mais nos afastamos de qualquer coisa que fomos, para ser mais nós. E a cada mês que passa mais perdemos o que nos pertence, em detrimento do que nos, cada vez mais, vai pertencendo. Assim, ganhando e perdendo, vamos sendo sempre nós, vamos continuando sempre com o que dizemos ser nosso, vamos continuar. Porque a vida é a continuidade de tempo. E o momento… o momento somos sempre nós – fomos sempre ele.

1 Comentário:

Anónimo disse...

Revejo-me no teu texto...

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