quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

E ser visto é ser


Até me vieram os olhos às lágrimas
E tive então, tristemente, uma visão
De um futuro ou passado, talvez imaginação.

Quando me vieram os olhos às lágrimas
O mundo todo foi só o que se via,
E, do que não se via
Depois disso, um precipício principia.

Com os olhos nas lágrimas vi:
A vida é do tamanho de um gesto
E nesse momento somos só um rosto.

Assim, de olhos nas lágrimas, senti
Que aquilo que fazemos aqui
É ver. E ver é viver.

E ser visto é ser.

(© Robert Doisneau, Le Baiser de l'Hôtel de VIlle, 1950)

Muss es sein? Es muss sein!


Não consigo parar de olhar o invisível. Desculpa.
Se quiseres olha comigo como Saint-Exupéry,
Lado a lado, fitando o mesmo horizonte.
E mesmo sem fitar mais que montanhas,
Surgirão delas novas visões que um só olhar não vê.
(Desculpa nada! Pediria desculpa se eu tivesse a intenção,
Agora a intenção não parte de mim, parte de nós).
Se te queres ir embora, porque é não te queres ir embora?
Podes ir, garanto-te que ficas aqui na mesma!
O problema não é tu ires embora, porque tu ficas,
O problema é tu ires embora, porque queres ir embora.

As nuvens passam quase como o tempo passa,
Porque o tempo destrói até as nuvens que passam.
Somos crianças que constroem castelos de areia,
Ao qual o mar de seguida os transforma de novo em areia,
E nos rouba a felicidade...
Podemos não construir castelos de areia frente ao mar,
Mas o que nós construímos é-nos deformado pelo tempo,
E nos rouba a felicidade...
Podia-mos pensar construir castelos indestrutíveis,
Mas as crianças não sabem moldar senão areia.
E nós não sabemos mais do que a vida nos ensina.

Tem que ser? Tem que ser!
E eu não vou cair noutro que não eu,
E eu não vou ser outro que não eu,
E eu só vou estar aqui porque tu és.
Disse-me um amigo que não namoro contigo,
Que eu vivo para ti.
E o que importa aqui não foi o que ele disse,
Porque o importante é que eu vivo para ti,
E se alguma vez te perguntares em que penso,
Agora já te podes responder, porque és tu...
Tem que ser? Tem que ser!

(Fotografia do filme "A Insustentável Leveza do Ser" livro de Milan Kundera)

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