quarta-feira, 18 de junho de 2008

Poema Semicerrado II

Vida. indisposição.
Imagem de marca,
Física imaginação
Que farta.

Estás com problemas contigo mesmo.
Hedonismo.
Alienação.
«Puxo o autoclismo(…)
Baixo a tampa da sanita»* 
Não tenho a solução

E eu, autor que cita
Nem assim me distancio.
Enquanto escrevo choro e rio
Da vida. indisposição que fica.


*referência com excerto da acção pp. 116 e 117 na 3ª Edição da tradução portuguesa de Menos Que Zero de Bret Easton Ellis pela editora Teorema.

Poema semicerrado I

Que dia é hoje?
Que horas são?
As promessas, onde estão?
Porque é que a minha alma foge,
Abandona o corpo na berma?
Sinto o vento mais frio.
Que dia é hoje?
Semicerro os olhos
Espelho da acção poética
E a vida, incompreensível, patética,
Está para além do vidro
Semitransparente.
Fugi, como a minha alma
Se ausenta do corpo, eu
Do corpo me ausentei
E fiz da mente poesia:
Cauda semântica da  palavra-chave
Que nada abre...
Espermatozóide infecundo da acção
Encurralado entre dois espelhos
Frente a frente.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A Cabeça da Ana

Não foi mais profundo.
Não é nítida esta frase!
São perspectivas
Mais ou menos
Percebes?

Carregamos a cabeça
Como se não fosse parte do nosso corpo,
Quando não a utilizamos.
Percebes?

Mais ou menos.
São perspectivas.
Nunca é nítida uma frase
Não foi mais fundo que isto.

E quando utilizamos a cabeça
Como se ela fizesse parte do nosso corpo,
Como um braço que se estende mais comprido
Sem nunca tocar em nenhum rosto.

Assim seria o fim

Não tivesse perguntado e saberia
Certo como a minha existência
Anula todo o sabor da experiência
Perfeita na sinuosa filosofia

Antes amasse eu as tuas mamas

Procuro na perfeita redondeza omitida
A verdade da vida

Professo o teu ventre e confesso
A palavra nunca lida

Apareces destino ou já me encontro
Onde cavaste o aconchego de mim.
Procuro, ofegante e absorto
O cálculo certo para cada fim.

Assim seria o fim se não houvesse
Outra dimensão em cada olhar
Se nada neste mundo mais trouxesse
Que outra onda se espera do mar?

E as palavras são só palavras nunca olhares
E as ondas são só ares de outros mares
Tu és só a sonda de um mesmo mundo
És o respirar absorvido no meu fundo.

A virtude de não nascer

Apresentado fui à santa ausência da desgraça
Corri atrás do que esperava ter
Perdi atrás de mim a fé e a criança
São visões que nunca ousaria descrever
Não fosse a ironia do presente estar parada
E o resto ser uma vaga e indiferente caminhada
Adorava ter o teu rosto por nascer
Agora esperei de mais para nada

Não olhes para mim que eu não mereço
Ter o teu olhar em mim como um adereço
E a tua voz eu sinto que não esqueço
É o timbre da minha purificação

E adormeço.

Adormece também, coração
Todas as rodas círculos não são
E as voltas estão soltas neste chão.

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