sábado, 27 de novembro de 2004

Antes do Amor


Porque é que tens tanta pressa em me amar. Perguntaste-me tu. E eu respondi, mas antes, pensei. A primeira coisa que me veio á cabeça foi o óbvio, porque não há tempo a perder, e não há! Mas seria uma resposta demasiado apresada com o intuito de apenas apressar o nosso amor. A pressa não é minha, é do amor, disse-o eu depressa e bem. E tu ignoras-te o nosso amor, e beijaste-me com o nosso amor ali mesmo ao lado a planar. E enquanto ele planava pensava na falta de amor que cabia ali. É que cabia mesmo pouco, porque foi um beijo rápido, seco, e tu como o beijo foste-te embora com a desculpa de uma coisa qualquer, mas que pelos vistos, mais importante que o nosso amor.
Passei a tarde sentado na esplanada a pensar no nosso amor ali a planar ao nosso lado, enquanto tu me beijavas. E eu perguntei-lhe ao nosso amor, o que é se passa afinal. E ele não respondeu, mas não um silêncio de quem não sabe, mas um silêncio cheio de sabedoria. E eu, nesse silêncio, vi o que o que nos falta é o aroma cintilante de um silêncio anestésico. Um ver desfocado de um ruído longínquo, e claro, um puxar impulsivo e magnético. Tudo isto é muito fácil de descobrir e de se desenhar numa folha. Mas se o amor coubesse numa folha passaríamos a fazer das pessoas meras suposições e das folhas certezas. O amor é uma coisa que cabe ás pessoas, não ás folhas, as folhas são meros tapetes voadores para viajar na memória e nessa certeza incerta de querer amar. Se é a falar que a gente se entende, é a escrever que a gente se encontra. E eu encontrei-te por aí, perdida nas entre linhas de uma folha especial.
Será que tu sabes amar? Ou será simplesmente amor o que sentes sem o praticares comigo? O amor é sempre dicotómico, bipolar, unidireccional, o amor tem sempre o amar e o não amar num só. O amor é um conjunto de paixões indecisas, de fracções imprecisas, de embarcações e brisas, de montes e névoas, de pontes arquitectadas sem réguas, de amantes e amadas, da jusante escapada em rumo ao horizonte em que me esfumo.

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