domingo, 28 de novembro de 2004

Não me lembro de escrever isto...

Ainda ontem os pássaros sobrevoavam nuvens erróneas
Hoje é mais um cigarro que se ardeu nas mesmas cinzas
[incorpóreas
O chão que pizas
Personagens que idealizas
Observações que frisas
E insistes em conceber mais um mundo, mais um céu
Mais um Juízo sem juízo, mais banco que réu
[concebido
Provavelmente és mais um sonho embebido
Num mundo sem céu, desprotegido

sábado, 27 de novembro de 2004

Antes do Amor


Porque é que tens tanta pressa em me amar. Perguntaste-me tu. E eu respondi, mas antes, pensei. A primeira coisa que me veio á cabeça foi o óbvio, porque não há tempo a perder, e não há! Mas seria uma resposta demasiado apresada com o intuito de apenas apressar o nosso amor. A pressa não é minha, é do amor, disse-o eu depressa e bem. E tu ignoras-te o nosso amor, e beijaste-me com o nosso amor ali mesmo ao lado a planar. E enquanto ele planava pensava na falta de amor que cabia ali. É que cabia mesmo pouco, porque foi um beijo rápido, seco, e tu como o beijo foste-te embora com a desculpa de uma coisa qualquer, mas que pelos vistos, mais importante que o nosso amor.
Passei a tarde sentado na esplanada a pensar no nosso amor ali a planar ao nosso lado, enquanto tu me beijavas. E eu perguntei-lhe ao nosso amor, o que é se passa afinal. E ele não respondeu, mas não um silêncio de quem não sabe, mas um silêncio cheio de sabedoria. E eu, nesse silêncio, vi o que o que nos falta é o aroma cintilante de um silêncio anestésico. Um ver desfocado de um ruído longínquo, e claro, um puxar impulsivo e magnético. Tudo isto é muito fácil de descobrir e de se desenhar numa folha. Mas se o amor coubesse numa folha passaríamos a fazer das pessoas meras suposições e das folhas certezas. O amor é uma coisa que cabe ás pessoas, não ás folhas, as folhas são meros tapetes voadores para viajar na memória e nessa certeza incerta de querer amar. Se é a falar que a gente se entende, é a escrever que a gente se encontra. E eu encontrei-te por aí, perdida nas entre linhas de uma folha especial.
Será que tu sabes amar? Ou será simplesmente amor o que sentes sem o praticares comigo? O amor é sempre dicotómico, bipolar, unidireccional, o amor tem sempre o amar e o não amar num só. O amor é um conjunto de paixões indecisas, de fracções imprecisas, de embarcações e brisas, de montes e névoas, de pontes arquitectadas sem réguas, de amantes e amadas, da jusante escapada em rumo ao horizonte em que me esfumo.

Não entres desprotegida na estrada da vida

Está um frio que congela. Tremo mesmo de frio. Porque estou cá fora, fora de ti, longe de ti, sozinho. Gosto de me recordar que existe algo no fundo de mim por dissolver nessas águas que se foram acumulando em mim. Corre agora fervorosamente por todo o meu corpo uma vontade indómita, instintiva, como se o meu ser sofresse de inadaptação ao tempo e espaço que o percorre e corrompe. Agacho-me, enrolando o meu corpo. Corpo, mente, coração, alma. Tudo somente nomes. Somente nomes aos quais nos habituamos e pelos quais dividimos o nosso corpo, porque tudo é corpo, não adianta contrariar uma verdade tão compulsiva. Para quê arriscar? Para quê? O que me darão em troco por pensar, sentir ou premunir? São tudo trocos que não movem mundos, porque aos mundos pouco lhes importa que esses pedaços ínfimos de poder não se movam. A quem lhe importa o que sentes ou o que pensas? Achas mesmo que isso vale alguma coisa? Claro, se lhe deres uns retoques para que caiam lágrimas até pode valer, caso contrário são meras birrinhas tuas, meras perrices ilógicas. Será que te sentes mesmo atraída para esses pródigos consultórios sentimentais? Ou serão somente os factores atenuantes da tua falta de lógica, sentido e desvirtualização do ser. Sabes quando te agarras ostensivamente a um suporte para manteres o equilíbrio num autocarro. Ou mesmo o cinto de segurança num automóvel. È isso que a vida pretende, que o contacto directo seja atenuado e estejas protegido. Viaja, sim, pela mente através do sentidos. Ver será sempre com os olhos, mantém o equilíbrio, não saias do automóvel enquanto percorres a estrada da vida, todas essas virtudes que encontras no ambiente condicionado, toda a segurança prometida se evapora quando entras desprotegida na estrada da vida. Porque eu amo-te, e não te quero perder por estúpidas tentações de sentir mais que o sentimento faz sentir, mais que o que a vida permitir.

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