segunda-feira, 28 de maio de 2007

I

Amada a tua alma e o teu corpo
desejado como o magnetismo dos astros,
Revela-se na súbita colisão dos lábios
A súbdita implosão do nosso instinto

Convergindo, ao topo perfeito dos teus ombros,
O cume transparente do espírito e da força.
Os teus cabelos, cortinas da razão
lavada no suor dos nossos poros,

Sou teu escudo no teu dorso ancorado,
Colar de pérolas pendente em teu pescoço

que como uma serpente se estrangula nos teus seios
E percorre o teu ventre sibilando
à pele macia e tépida a rudeza
doutros desertos de areias tão paradas.

II

Os teus dedos sulcam a minha carne, desejando
os meus lábios perscrutando a tua pele
nas tuas pernas que escalo lentamente,
Lambendo terra fértil sinto, ouço,
Um vulcão penetrantemente palpitante.

Separo o teu ser até ao centro
E deixo confluir do nosso corpo
A nossa erupção, flamejante e simultânea,
De uma natureza divina e subterrânea.

III

À superfície do teu olhar está espelhado
o amor deste mar em que mergulhas.
No teu arfar ainda o passo desta dança.
A maresia e o suar e a calmaria
e a lava que a teus pés solidifica,

em sorrisos abraçados nasce um dia
E em dois seres um amor fica.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Caminho onde tu nem sequer vês
Não sonhas comigo nem sequer nos teus pesadelos
Eu estou para lá de onde todas as estradas e caminhos terminam.

Nunca vais querer tentar chegar,
Mas eu espero.
Porque só consegues ser onde estás,
Aqui não serás tu sequer,
Nem sequer tu serias se aqui tentasses chegar,
Por isso tu nunca cá estarás.

Mas quando o teu corpo
Já depois, já mais tarde, depois do sol
Vier por uma linha ao meu encontro,
Susterei o último suspiro de memória,
E serás toda a certeza dessa glória.

Incêndio

Como se pode inspirar a vida
a acontecer por si só?

mágica e brilhante
como ela deveria ser.
Mas não é.
Toda ela vai perdendo o brilho
quando a focamos, quando tentamos
mantê-la brilhante pelo artifício
de manter aceso algo que já devia ter apagado

como uma vela que,
num desespero de manter viva
a sua chama, mesmo depois de queimada
toda a vela em si, deixamos queimar a toalha,
depois a mesa,
depois o carpete,
depois a sala
e as memórias
- mas raramente o mundo.

Então vão-se tomando os dias por noites,
as chamas por necessidades,
o mais pelo mesmo,
o querer por desejo,
a vontade por poder,
o olhar por algo mais que olhar,
as palavras por algo mais que palavras.

E assim se criou aquilo que somos agora.

Teclas

Esse gigante,
Esse tempo...
Firme firmamento
Na incerta gente,
Árvore, folheado lento
Da noite presente.

Há noites que caem,
Há folhas que murmuram
E vidas que se espraem
Pelos olhares que viram.

Vastidão de começo e despedida,
Incerto sentido da clareza
- E um gigante malhado na certeza,
Vagueia lento em corrida.

Não há palavras como o vento
- Assim as folhas falavam
E as árvores eram o firmamento
Com que sonhavam.

domingo, 13 de maio de 2007

Cuidado, há ventos que sopram,
Há sinos que dobram;
E sinas legíveis
Em palmas suadas,
De mãos extensíveis
Às palavras escutadas.

Faz o que ouves e o que vês
Faz depois de o teres já feito
No espaço do e se fosse, talvez...,
Só mais tarde era uma vez...,
Por agora é o instante perfeito.

(E sabe tão bem o verso imperfeito
No parapeito
Da tua janela entreaberta
E a lua bela desperta
Para a versificação experta
De cada sujeito)

Sim, o bem e o mal,
Mais o falso ideal
Com o carimbo moral;
Não há herói natural.

O único herói que há
É o tempo, que para já,
Nunca será racional.

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