domingo, 29 de abril de 2007

Nunca tive mais do que o que vi,
Não, nunca em mim encontrei
Um pedaço que fosse teu,
Mas guardei
O mistério do teu céu.

O teu rosto é humano
E o teu corpo chama por mim
Assim.

De ano a ano
A fotografia que não tiramos
Está rasgada pelas mãos que não tocaste.

Mas nasceste.

Quanto mistério há nas tuas palavras,
E caso a tua boca abras
Não mais fará sentido
Esse sussurro absorto
Ao olhar acidental do nosso encontro
Neste ar de vago destino
Já morto.

Trouxe do meu mundo destruído
As sobras
Ruínas perfeitas de algo perdido
Pelas sombras

Vagueio ainda pelo olhar matinal,
Com o sol a vergar à tempestade
Orgulho de um sonho que afinal
É o que de mim sabe a verdade.

sexta-feira, 27 de abril de 2007


Gatinham a meus pés
Teus pensamentos.
Máquinas de marés,
De sentimentos,
E os pés,
Que pisam, como o tempo,
Teus pensamentos,
Qual marés,
De sentimentos,
A meus pés.
Que passam, como o vento,
Qual marés,
Que calcam com os pés,
Meus sentimentos.
Ouço os teus pés
Como pensamentos,
Rebentar qual marés
De sentimentos,
A meus pés.
Que como o vento
Se desfazem nas marés,
Os pés
Dos pensamentos,
Que calcam sentimentos,
Que se desfazem no tempo,
Qual marés.
Meus pensamentos
A teus pés,
Que caminham pelo tempo.
Teu pensamento,
Leve, como o vento,
Nas marés
Dos teus pés,
Que a meus pés,
São marés
De ida e volta.
Vida e revolta
Pelo tempo
Que o sentimento
Insulta,
Nas cíclicas marés,
Com pensamentos,
De pés.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Posso escrever para ter
O teu rosto posto abaixo
Desta mesa.
Posso gritar palavras sem falar
Fazer-te sentir no texto
Toda a certeza.

Mas eu não quero mais
Escrever com o pretexto
De haver uma vela acesa.

Não te quero a sentir nada
Quero-te a não sentir nada,
A ver a estrada parada da vida,
Essa outra história repetida
Vezes sem conta...

Vê: a consciência estava na montra;
Agora está partida.

E ela está algures na estrada,
Por aí, à solta, noutros braços.
Os deuses morreram todos,
Há demasiadas pegadas
E poucos passos.

E ninguém sabe onde
Fica o final.
Perdeu-se o fim, paciência,
Ninguém o esconde,
Está em todos essa total
Consciência.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Palavra que o Mundo Encerra

São palavras além das palavras
que palavras exprimem
as palavras mal escutadas.
Palavras que com palavras rimem
as palavas acabadas.
Palavaras que palavras admirem,
estas palavras caladas,
por palavras enterradas
nas palavras em que vivem.

Palavra silenciada
pela palavra ouvida
na palavra anuncida
à partida.

Palavras de terra e de paixão
palavra que o mundo encerra
na sua vasta e inútil compreensão
das palavras em guerra.

Dever relativizado

No amor existe acima de tudo guerra. É o antagonismo próprio dos corpos e das coisas. Não queiramos contrariar o que é.
As confusões que nos possam assolar o espírito (que apesar de tudo não é o adjectivo que descreva alguém que padece de confusão, embora que para ela lhe pareça de facto assolador) são matéria adepta da guerra e do amor que vive em tudo.
Acima de tudo isso existe um desejo de perfeição, a idealização característica indispensável à sobrevivência da alma. Quem não deseja mais que o que tem acaba por se sentir vazio.
A ambição que corrompe e não olha a meios para atingir os fins, mais preocupante que a mera incongruência moral, quebra por vezes a linearidade e objectividade espácio-temporal dos objectivos - e é altamente prejudicial.
A ambição não deve contradizer as possibilidades que o mundo real me vai apresentando, em consonância com aquilo que eu sou e aquilo em que me torno, a cada segundo, com a conexão com o anterior e com as reais opções que fazemos para nós... Não nos devemos basear em possibilidades abstractas que possam conflituar com as possibilidades reais segundo a lei da matéria. Para algo poder morrer tem de primeiro nascer, a nascer temos de acreditar que morre.
Vencer um medo não é nunca ter tido esse medo. Temer pela primeira vez é diferente de temer de novo. Apesar da atractiva cíclicidade dos estados de espírito e da (pré)destinação a que o Homem muitas vezes se agarra, a linearidade dos nossos passos caracteriza o novo Homem que luta contra as realidades aparentemente estáticas e seguras, o conforto das certezas, quer nas ideias quer na matéria.
No homem como na humanidade a luta constante entre a paz e a guerra, o amor e paixão, deve ser tomada como indispensável e salutar ao progresso que nos é facultado pela consciência – racionalização das reacções (expressões) do instinto à percepção – alteração contínua da experiência de existir socialmente, relativização do que é apresentado como certo, repartição do que é total à vista e constituído à visão microscópica da razão – da mesma forma que eu e tu somos o mesmo sendo diferentes, assim o e uma acção, uma ideia, um facto...

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