quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Mas tu não estás
Mas tu não és
Amor de morte e de razão
Perspicácia do tactear óbvio das pontas

Para não perder o que vi
E sonhei ter
Roubei do que é teu
Para teres de regressar
E me enfrentar por entre a escuridão da porta

Ver-te regressar assim já morta para mim
Mas regressar
Significado humano, ilusão detestável razão

O que os olhos vêem é o teu regresso
(mais longe ela ficou, para nunca voltar mesmo)
Os meus olhos vêem que tu voltaste
(mas não és tu quem eu queria, não assim)
Tu, sim, reconheço os teus traços
(quem és tu que bate agora à minha porta?)
Aqui estás, abraça-me
(abraço falso não-abraço de um corpo frio)
És quem aqui está, deixa-me aquecer-te os braços frios
(abre os olhos, ela está morta, tu mataste-a)
Vá, meu amor, fala-me. Onde está o teu sorriso?
(o único sorriso que transparece é a ruga defunta dos espasmos da alma)
Onde está o teu odor de primavera?
(putrefacção da alma que se mudou)
Porque foges? Porque partes? Porque levas contigo o que é nosso?
(é só dela... só dela)

Hoje sinto-me mais feliz que ontem,
Sinto-me mais preso a mim...
Para quê fingir? Se estou tão desgraçadamente perdido em me encontrar na firmeza rude de qualquer rocha.
A rocha não sente.
A rocha não pensa.
A rocha não é.
E é feliz em qualquer circunstância,
Atravessa tempos, é lugar, é símbolo.
Quantas existências se sentam nela?
E ela, sem ouvir, ou ver, sabe todos os romances.

Ah! Mas o meu coração não é rocha,
Nem o meu pensamento, por mais que tente.
Queria eu cimentá-lo!
Mas sem poder, sou corpo rastejante e pensante, e sinto tudo isso na rocha que sonho.
Rocha do atravessar os tempos,
Rocha de ficar, imóvel, e passar
Como o rio e o vento, e tudo passa.
Sentir os meus pedaços que foram a desfazer-se em areia e pedras,
Pela força do mar que sinto fazer moças na minha ponta mais aguda.

Abram os deuses lugar para mim entre as rochas,
Quero-me areia agora!
Desfazer-me em partes de várias rochas,
De vários romances,
Subir a rocha que pisas, e olhas e escalas ou admiras,
Mas ser ela,
Sem ser nada de nada além o ser um pedaço firme que não finge sequer mexer-se,
A não ser quando o vento ou o mar decidirem abalar ou desfazer a rocha que eu sou.

Ignorantes os que da vida se arrependem
E mais os que a ela se prendem
Não há nada para ser descoberto ou experimentado
Que não nos sirva apenas de raiz e compromisso.
Por isso eu me abstenho, por isso me distancio
Faço o que é nada, o que é nulo, o que é vazio
Deslumbro-me com a capacidade de visão...
Distorço e não guardo nada na memória
Apenas guardo minutos e segundos contados
O cálculo nulo da nulidade do tempo
O zero que é a sombra do um.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Que me importa o teu nome
Se quando eu te chamo
Só na perpétua imagem da minha mente te vejo
E nem sempre és igual
Nem sempre és a mesma
Nem sempre és sempre
Ás vezes és tão outra.

Que me importa o significado
Toda a linha que comporta todo o fixo movimento da voz
A estrada que encaminha para a percepção
Do sentido
Se tu
E só tu
Me bastas
Sendo Tu.

De que serve todo e qualquer gesto
Qualquer palavra
Qualquer expressão
Quando o meu gesto é estender-me no chão
Quando a minha palavra é um grito críptico
Quando a minha expressão é a flácida face babada na carpete
Não
Não procuro olhar para dentro de mais nada
Não quero ficar preso a mais nada
Não quero saber, não quero conhecer
Não quero perceber tudo o que todos inventam para ser percebido
Não quero fazer parte de algo que não é mais que a ilusão
O jogo de Deuses que morrem
A criação de pequenas inexistências
Isto é, Civilização.

E gosto dela
Da CI-VI-LI-ZA-ÇÃO
Porque gosto de dizer CI-VI-LI…
É giro sem ser giro porque giro não é giro
Quero dizer CI-VI-LI-ZA-ÇÃO em cinco pulos
E chegar ao chão e sorrir com os lábios
E com a boca
E com sons que saem dela.

Só porque alguém resolve dizer que estar contente
É sorrir
Só por alguém dizer que alguém tem um aspecto alegre
E outros têm um aspecto triste
Que sabem eles sobre mim?
Que sabem eles do que eu penso?
Quem lhes diz a eles que eu penso?

Quero fechar-me aqui neste quarto
Que nem sequer é um quarto
E ficar a escrever coisas
Ah…
Escrever coisas é bom
Porque enquanto escrevo
Não vos estou a aturar
A dizer que este é maluco
Aquele é parvo
E o outro é doido
E que este inventou e fez e chegou primeiro que o outro a seguir
E que os Ingleses são frios
E os Brasileiros são bem dispostos
Quem inventou o volt ou o telefone ou a bússola
E quem é que descobriu a penicilina
Ou que isto é Bahaus
E isto é Art Deco
Ou que o amarelo está deemodé
Ou que o preto esta sempre em voga
E que isto é Rock mas que ás vezes é quase Funk
Ou que é Punk mas é “Comercial” ou se é Pimba ou Música Popular
Que me importa isso? Que me importa que me importe?
Não me importa nada
Porque eu estou além da vez que passou.

Tristes passos dados no caminho
Alegres as vozes que nos fazem chorar
Na vez de estar aqui a receber a herança dos antepassados
Mortos
Passados
Enterrados

Quem viu a grande explosão de tudo isto?

Aqui de soslaio para a caixa mágica, explodem mil milhões de parvoíces na alta tecnologia, ao serviço da nova arte comercial. Publicidade, obras mainstream da classe social dominante. Serviço para nos criar de novo. E o que é imprevisível? Qual será o homem de hoje que será amanha exaltado? Há sempre um rosto por mais que nos tentem confundir com esta liberdade. Privaram-nos da liderança. Privaram-nos do ideal, do fanatismo… de acreditar! Espalhados à nossa voltam estão quadros em branco, vazios, sem qualquer conteúdo. Querem-nos vender, comprando-nos.
Era tão bonita a palavra união. Afirmação. O grito exaltado da revolta por alguma coisa. Hoje são cacos espalhados no escuro do ar que respiramos. Ínfimos pedaços que nos esquartejam o interior. Prendam a liberdade que anda à solta. Caso contrário, eu vou-me sentar aqui, e tentarei não pensar em nada.

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