quinta-feira, 16 de dezembro de 2004
domingo, 12 de dezembro de 2004
Eu
Eu não sou Eu Social,
O Eu Social é que é Eu.
Viver é morrer mal,
Morrer é viver no Céu.
Se vivemos todos no instante
Em que a morte ainda não veio,
Morremos todos a meio,
De uma vida insignificante.
Deixamos da vida metade,
Sonhos, futuros, inexistências.
O resto que deixamos é verdade,
Memórias, panos, vivências,
Fazendo de tud’isso saudade.
Mas se em flagrante delito,
A vida nos é amputada,
De que nos serve este rito,
De procurar destin’aflito.
Um sino que toca é nada.
Mas se eu me distingo
Entre o que sou e procuro.
Então eu sou o que ligo,
O presente ao futuro.
Um futuro que instigo.
Por Olavo Pinto às 13:34 0 comentários
Artigos Relacionados:
sexta-feira, 3 de dezembro de 2004
Virei costas a mim próprio
Virei costas a mim próprio,
E vi-me partir a mim,
De principio achei impróprio
Deixar-me partir assim.
Não fui atrás de mim, esperei
E enquanto esperava me vi partir sem rumo,
Certo do destino e do caminho, fiquei,
Pensando em mim, no encontro me sumo.
Olhei, e vi que não via
De mim nem sombra ou sinal.
Se a vida é assim fantasia,
A quem pertence afinal,
A vida que eu daqui via?
Esperando me encontro no meu desaparecer.
Sendo o tempo da vida, ou o tempo de si,
Onde o sentimento pensa em ser,
E o pensamento sente o que vi,
O desespero de a mim me ver.
Mas se eu sem me ver me sinto,
O que é estranho, simplesmente,
É que eu sinto estranhamente,
Que eu estranhamente me minto,
Um de mim a mim me mente.
Acertando o passo comigo,
Olhando eu duas coisas opostas,
Eu conversando-me como amigo,
No entanto me viro as costas.
Porque a vida que eu sigo,
Eu que ali vou, não ligo.
Tu que aí vais, não gostas.
Por Olavo Pinto às 20:47 1 comentários
Artigos Relacionados:
quinta-feira, 2 de dezembro de 2004
Quando o que vem, vem de lado algum...
Não nasci ontem. Nasci na remota peça imensa de tempo que extravagantemente se consumiu segundo a segundo. Milhares de segundos passaram desde esse instintivo momento em que olhei para este mundo. Sentir? Senti de certeza – e não foi pouco. Senti as profundezas da beleza, as imundices da tristeza, as provocações e a intermitente tentação cinestésica atractiva. Orgulhosamente sinto por este estádio sadio de pensamento meneável a ostentação de um fado dúbio que me simplesmente maravilha. Quando me lembro do quanto eu queria voar, penso no quanto agora voo e vejo a diferença – quando o queria, para além de não o ter, não sabia o que era e só usufruía do engordurado sabor do desejo; agora voo pensando que apenas penso voando e sei, sei com certeza, que a vida está aqui, onde eu estou voando. A vida são dois dias? Não, são duas metáforas embrulhadas em papel de sinestesias com um cartãozinho escrito com tinta disfórica. Ah, sonho! Quanto do teu material foi encontrado por estas ruas, mas nunca estas ruas conseguiram utilizá-lo como tu. Como tu és tão bom ó sonho! Como tu és tão certo e conforme. Como tu és real, ó sonho. A realidade? Esta, não, não veio para ser fantástica, veio para esperar por ti, aqui. Tu, sim tu ó sonho, tens de ser o magnifico, para magnificar a realidade. Ó realidade, realiza-o. Realiza o sonho que se te depara. Sonhar? Só mais um bocadinho, depois que todo o horizonte seja real. Construo, quem não constrói? Também, toda a construção tem pontos comuns, mas nem todas as construções são iguais. Há construções que são uma merda pegada. Depende da forma de construir, não é? Quem não quer, que pelo menos não destrua a construção dos outros, que eu não ando para aqui a construir coisas para que um palhaço qualquer venha para aqui destruir o que é meu. Quem quer saber das tuas queixas, afinal, elas são tuas e não minhas, não é? Hein? Á espera do quê? Não constróis aí, constrói ali foda-se! Queres perder tempo para ganhar o quê? Isso não dá nada. Corroam-me, corrompam-me, isso! Venham, todos juntos e mais os vossos sindicatos. Manifestem-se, avante! Contra mim e contra os que estão nas minhas costas e na minha fronte, que eu pá, eu? Eu estou no meio. Nem vejo o que há lá para trás, nem o que há lá para a frente! E no meio de tanta confusão, da confusão que vocês fazem, nem o que está aqui ao meu lado eu compreendo. Que se lixe! Amanha é outro dia, não será? Sei lá… o que tu esperas de mim, porque o que eu espero de ti é mais do que eu espero que tu possas esperar. Quero-te muito, a sério, para que ter de passar por tanto quando eu sei o que quero? Se me enganar tanto me engano agora como daqui a 2 horas, afinal 2 horas não transluzem nada que possas esperar que transluza. Tu sabes jogar? Ah, eu também. E os dois jogamos de maneiras muito iguais, melhor assim que assim mais tempo dura o jogo. E quanto mais jogarmos mais transluzirá, e quem perderá? Ah… sei lá… Serás tu, serei eu? Nah… ninguém perderá, os dois ganharemos nem que sejam 2 horas de experiência no jogo. E pode ser que no fim eu já nem te queira – pode ser mesmo que te ame.
Dá-me a impressão de estar a falar sozinho. Mas não, afinal de contas nem estou a falar. Melhor, que assim estamos os dois calados. A ouvir-nos um ao outro. A ouvir-nos cada um a si. Mas é pena que agora me adormeceram os dedos!
Por Olavo Pinto às 13:55 1 comentários
Artigos Relacionados: