terça-feira, 11 de outubro de 2005

Agora Como Ontem

Viagens atrás da janela
Com os olhos pela rua
A vela atrás arde nua
E a nossa alma numa cela

Revela a bela que há dentro
Tal qual a natureza de cimento

Um sol cinzento
Um brilho nas nuvens
O amor ciumento
E a fachada de desdéns
Os que por uns vinténs
Se sacrificam ao julgamento
Dos infiéis á sua posição
Nas alturas de compaixão
Levam numa mão os bens
Na outra todo o alimento

Agora como ontem, por trás de tudo,
No fim do que julgamos ser começo,
A linha estreita, minga, ainda mudo
O mundo e mais a mão que esfrego e aqueço.

Risos de desesperos inquietantes;
Pisos e pisos de exageros exuberantes;
Luxos em carnes velhas de viver,
E de não ter outro pensar que o poder.

Cada pedaço que levas á boca,
Com o garfo e com a faca de prata,
Mostra a insensatez mesquinhez oca;
Ontem como hoje o poder nos mata.

Foge por entre isso a que chamas mundo,
Intempérie ofuscada de fomes sedentas.
Por entre tudo o que chama-mos nosso e no fundo,
Tudo não passa do retorno às tormentas

Do passado
Que sem passo distanciado
Se aproximam pelo círculo
Ridículo circo
Que compomos
Nós e os sonhos
Realidade detestável realidade
Antes afogar do que como Camões
Morrer servindo algo que sem vontade
O deixou afogar em sonhos e caixões.



Um tiro na nossa sombra
Fere mais que um tiro em nós
Ilusão perene da palavra
Realidade efémera na voz

A sombra escapa infactível
Ilusória beldade encoberta
Vaga indistinta completamente visível
Nós a certeza tão incerta

Porque nós somos tão concretos.
Somos definidos pormenorizadamente.
A alma, o espírito, a mente.
E no fundo somos dejectos.
Sobras de outras sobras ainda.
Restos de luz e projectos.
Perecidos, a nossa sombra não finda.

Enquanto houver luz
A nossa sombra não finda
Paraíso que nos conduz
Para outra coisa mais linda:

...O mundo das sombras
Onde a luz não ofusca
Reflexo que não reflecte palavras
É ela é a nossa busca

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