sexta-feira, 9 de maio de 2003

Amo (uma pequena cena)

É tão fácil virar as costas a quem não gostas
E então mostras faces poluídas de sombra
Nem sequer pensas na palavra que proferes
Sabes que estás bem, digas o que disseres
Mas não sabes como me sinto agora
Estou morto por dentro, vivo por fora
Não existo, nem tenho memória de ter existido
Sou apenas uma história, um holograma construído
Pelo tempo, pelo pensamento, não sou nada
Não tenho estrada nem destino
Não tenho hino, nem voz
Não sou eu, como podemos ser “nós”
Não estou indeciso, é que não tenho por onde decidir
O meu paradeiro não é conciso, não tenho para onde ir
Não tenho motivo para sorrir
Nem lágrimas para chorar
Não posso voar
Mas não assento no chão
O sangue não corre, escorre, não tenho coração
Não sou realidade, não sou ilusão
Sou uma verdade que vagueia na cidade
Do pensamento daquele que diz existir amizade
Amizade não tenho, é apenas um favor
Apenas há atracção, não existe amor
Eu não existo
Não subsisto de palavras
São apenas histórias macabras
Sou apenas páginas rasgadas
Não tenho linhas
Tu caminhas para mim
Mas não chegas ao fim
Não tenho eternidade
Não tenho infinito
Não tenho visibilidade
Nem voz, apenas grito
Não escrevo, apenas devo um legado de pesares
De que a minha existência não passa de olhares
Não passa de mares
Que se misturam com ares
Vês bolhas de água
São a mágoa das profundezas da alma
Não existe calma
Não existe pressa
A vida não cessa, mas não sei onde começa
Agora confessa, achas mesmo que eu valho a pena?
Eu não é nada, é apenas… uma pequena cena

amo

Todas as pessoas são almas
Onde pára o coração?
Perdido pelas ruas
Tanto minhas como tuas
As luas não iluminam
Quando o teu brilho as denominam
Como tudo á face da terra
E tudo o que nela encerra
Fascínio, não domínio
Extermínio, do exterior
Onde pára o amor?
Perdido pelas ruas
Tanto minhas como tuas
Onde paramos nós
Onde pára a nossa voz
Para dar lugar à tua presença
Damos valor ao que iluminamos
E não à luz que possuímos
Dentro de nos mesmos
E onde paramos nós?
quando sem coração nem voz
Somos apenas solidão de almas
As palmas das mãos suam
Os ventos na parede recuam
E onde pára o vento que
Batia na tua face
E onde pára o sol que
Outrora te revestia de classe
Pinta, estilo
E onde pára o só?
E onde vem esse nó
Que provocas quando evocas
A tua beleza que
Até um cego a vê…

Estrito e Inscrito III

Insere-me no teu compromisso,
Eu não falo mais de amor, prometo,
Insere-me em ti, eu, concreto.
Não falo mais de amor, derreto!

Mas prefiro derreter, a perder consciência
De ti, experiência, de nós, inocência na voz…

Serei tu, juventude eterna! Inconformados!
Ventos irrisíveis de infantes reformados
Olhos e partículas invisíveis
Somos homologados, catalogados,
Criadores perfeitamente recortados.

Informativo que se aclame, são a voz do povo!
Quebrantes de fórmulas, quebra ovos,
Quebra-nozes,
Quebra vozes,
Quebra instantes em estantes,
Quebrando estantes em instantes.

Informa a tua vida, imparcial!
Renova a tua ida, superficial!
Recorta Ilíada e cola-a no teu caderno,
Nesta nova era escrevem dedos eternos,
Isola e recorta, e chama-los inferno!

quinta-feira, 1 de maio de 2003

Verdadeira

Sofrimento de um sofredor
a quem a dor se disfarçou de amor.
Quando a mente se ajoelha ao coração,
quando a razão perde inspiração
na submissão à acção, indistinto
em que dou vazão ao instinto.
Não penso quando escrevo, mas sinto.
O sentir não mente, a mente não sente,
quando o impresente nos conquista para sempre.

Desespero de ficar preso na vista,
inocente, pura, mas dista da realidade,
da felicidade em que não acredito
porque já só grito pela verdade.
Pela solidão.
Verdade não se divide entrega-se, inteira.
Solidão não se guarda, partilha-se, verdadeira.

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