sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Virei costas a mim próprio

Virei costas a mim próprio,
E vi-me partir a mim,
De principio achei impróprio
Deixar-me partir assim.

Não fui atrás de mim, esperei
E enquanto esperava me vi partir sem rumo,
Certo do destino e do caminho, fiquei,
Pensando em mim, no encontro me sumo.

Olhei, e vi que não via
De mim nem sombra ou sinal.
Se a vida é assim fantasia,
A quem pertence afinal,
A vida que eu daqui via?

Esperando me encontro no meu desaparecer.
Sendo o tempo da vida, ou o tempo de si,
Onde o sentimento pensa em ser,
E o pensamento sente o que vi,
O desespero de a mim me ver.

Mas se eu sem me ver me sinto,
O que é estranho, simplesmente,
É que eu sinto estranhamente,
Que eu estranhamente me minto,
Um de mim a mim me mente.

Acertando o passo comigo,
Olhando eu duas coisas opostas,
Eu conversando-me como amigo,
No entanto me viro as costas.
Porque a vida que eu sigo,
Eu que ali vou, não ligo.
Tu que aí vais, não gostas.

1 Comentário:

Anónimo disse...

Olá , Olavo

Sou brasileira,por acaso, à procura de material sobre Milan Kundera, deparei-me com este blog. achei fabuloso o conteúdo. Vi a mim nestas palavras. O encontrar meu "eu", ás vezes, parece obscuro. O mundo nos torna assim. sabemos bem o que queremos ao deliciarmos, por exemplo, o bolo da vovó. entretanto, quando alguém nos impõem alguma ideologia,mudamos de planos e já não mais sabemos quem fomos numa tarde de sábado.
Um grande abraço, boas leituras e boas idéias para teus relatos.

Magda de Lima ( Brasil)

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