quarta-feira, 14 de dezembro de 2005


Já está tudo escrito. Nos livros, nas paredes, nas bocas, nos olhares... Tudo está impresso, o futuro e o presente. As ideias, os movimentos e os impulsos; sim, o ponteiro é cíclico e os números são e serão sempre os mesmos. Harmoniosamente arrastados por um compasso no qual dançamos.
Levanto os olhos da mesa do café, olho em volta, e a atmosfera envolta de um doce e quente cheiro a gente, faz-me levitar. O chão está a centímetros do solo, eu sou o chão e sobre mim está erguido o imperioso edifício do Ser. De repente descanso os olhos num placard publicitário: “Change You View”. Sem mexer nada em mim, o placar exibe um novo slogan: “Renda-se ao sabor do inesperado”. Novamente: “win some... lose some”. Ah, religião tão fervorosamente seguida que a cada segundo nos indica o caminho, nos enche os olhos, nos rouba a vontade e no-la substituí por desejos.
Tudo está já escrito. Só nos resta vivê-lo, olhando profundamente aquilo que de superficial nos atenta. Afinal há mais, aqui no que julgávamos estar vazio. Afinal algo chocalha no que julgávamos ser inócuo. Quebra a casca fina e macia da sensibilidade. Lá dentro, lá dentro... Afinal, lá dentro. Afinal, nós sempre fomos felizes.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Estilo Diamante

O estilo diamante cristaliza
Nos sentidos a voz que se procura,
Visão vasta, calma que alisa
As estrelas no horizonte de negrura.

A praia, aqui em baixo, tão perto
Adormece em mim toda a vontade.
Mas o invisível infinito tem verdade,
Tem a justa imaginação em que desperto.

Hábil é aquilo em que pensamos,
Série de imagens do que nos escapa,
O mistério, o fado, que aspiramos
E que a imunda realidade fede, mata.

Voa comigo, pela vista, cegamente.
Vê comigo como um só olhar célere,
Depois no escuro, são, brilhante,
Adormece o despertar que fere.

Realidade é mera absorção,
Do divino espaço que ela tem.
É aquilo invisível, quase imaginação,
Que bem se vê, por não se ver bem.

Vamos, vamos embora
Que o segundo é hora
E o mundo chora
Dentro, dentro
Onde eu não devia estar
O mundo é momento
E eu sou andar
Sem chegar a ser
Outra coisa senão querer

Vamos, vamos embora
Lá Fora, por fora
A vida não é aqui
Nem nunca foi certamente
Talvez no que previ
Tivesse sido
Mas só momentaneamente
Antes de vir já tinha ido

Vamos, vem comigo
Embora... agora... anda
Que o mundo não manda
Naquilo que eu digo
Vamos, vamos embora
Que o mundo devora
Quem insiste em ficar
Morrer é parar
Viver é ir embora

Será voz a poesia?
Só o tom, sem seu sentido.
O eco real da fantasia.
O agrado sonoro, humano, ouvido.

Será poema
Qualquer tema
Que se escolha?
Não será o pensamento
Um poema desatento
Sem tinta nem folha?

Quem não pensa
Que pensar
É uma doença
Que nos faz falar
Em vez do cantar
De criança
Que em vez de poetizar
Nos faz fervilhar
Na cabeça
Águas com que remar
A esperança

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Lembro como se fosse hoje
De te ouvir que o tempo foge.
E fugiu.
Que a vida é arte
E todo o que dela fez parte
Partiu.

Então eu desço
Pela sombra, pela escura
À procura da negrura
O que não esqueço

Então eu vou
E agora sou
O que fui!
Vejo-me aqui
Vejo-me em ti
E quanto dói...

Tanto, tanto pensamento que sei
Acaba, agora é tudo para ser nada
Mais alta é só por si a Lei
Que tudo finda – excepto a estrada

Por isso caminho, simplesmente
Sendo já só cinzas que caminham
Sopro no oco que é a mente:
Sonhos que realidades tinham.

Dá valor ao teu ser, em ti, tu
E ao amor, em si, nu
Que a vida acaba, em nada, a cru
Nesta estrada, tudo acaba - também tu

E também tu.

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