quinta-feira, 29 de abril de 2004

Um ser

Encosta para traz o pescoço,
Adormece, lento, vento grosso.
Sou eu e quem mais havia de ser?

Um ser.

Regressa para os meus braços,
Na ampulheta os minutos de paixão escassos,
Vejo-te a ti, sem mais ninguém para ver.

Um ser.

Aprecia a natureza, tudo é uno,
Tu, a supra beleza, ávida Juno,
Completa todo o ser, o ser natura
Alma há só uma, e é pura.

Mais que um ser,
Não sei defini-lo…

domingo, 18 de abril de 2004

Poesia de café...

Ai... Como vejo o horizonte não sei,
Mas o chão que piso, chão sem rei,
A arte foge-me das mãos, é incorpórea.
As mãos da arte são, em vão, memória.

Cubro a solidão com meu manto,
Ao rubro da respiração, choro num pranto.
Moro no canto da palavra austera,
Na voz sobrenatural que a natura espera.

Voo baixo terra, caminho na atmosfera.
Sou o silêncio inaudível da tua esfera.

É tão doce que em vão adormece, sonho não vem,
Realidade não tem,
Caminha na inexistência,
Pisa a linha inaudível da demência,
Respira o ar visível da consciência,
É a ira risível da existência,
É o conforto inconformado da experiência,
É o limite da liberdade da dependência,
Sem influência, pai ou filho, sem conta.
É a unicidade, o zero, que não se encontra,
Que foge dele mesmo para ele, não é nada é tudo.
É o grito insípido, da voz de um mudo,
Não é um ser, é um mundo
Sem ser.
Não é o ver, é a visão
Cega.
Não é música, é letra que nega.
É o idioma comum, mas nunca dito,
Sentido num só sentido, sem voz, só grito.

Não inspirado, é inspiração que nada serve,
Apenas seu coração, sem sangue, pois sangue ferve.
A consciência, essa pereceu agora é arte
Do mecanismo cíclico de que sempre fez parte.

Não é matéria, é mistério
Como miséria, séria, sem cemitério.
Sem critério, sem final,
Fim ou meio, é o oculto do natural,
Sub natural, sobrenatural.
É bem e mal ao mesmo tempo,
Fora de tempo,
Ou pensamento.
É o momento em que me encontro em ti.
É a verdade que engana, que eu engoli.
É simplicidade confusa,
É a maquiavélica musa,
É uso que do desuso não se usa.
É aquilo que do nada abusa,
Reclusa de liberdade que obteve,
Água que afoga, não mata a sede.

É invisível, inalcançável…
Morte saudável…
Oh, sorte afável!
Beijo de almas…
Canto de salvas!
Suor de palmas…,
Juntas numa só!
E acredita que toda a matéria é pó
Na eternidade, no infinito…
É palavra que não existe, tão só num grito!

Como um fantasma, crença da loucura!
Do demais fere, mas também cura…

quinta-feira, 15 de abril de 2004

Atrás de uma janela
Dentro do secretismo da cela
Bela mas que prende, fecha
Disposto no sonho que a realidade não deixa

Queima a fogo lento
Fumo de lentidão do pensameto
Corre em qualquer sentido
No destemido grunhido da solidão

Tão quente
Vão, fria, de repente
O que não sente, mas implora
O indiferente que sem lágrima, chora.

prática sonho teoria © 2008 Template by Dicas Blogger.

TOPO