segunda-feira, 27 de outubro de 2008

É preciso estar completamente desprovido da vontade para se ser poeta.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Estou calmo, agora
Aquecendo os meus ossos junto do aquecedor eléctrico
(Já não se fazem fogueiras, como antigamente…)
Como torradas com manteiga
Bebo leite com mel
Estou calmo e sei que a vida é minha
Estou calmo e até sinto indiferença
Leve dor a que era ontem
Arrefeceu agora e só aqueço os meus ossos
Que afinal nunca doeram

Cai chuva
Mas é lá fora
Mas não deixa de cair chuva
Mesmo sendo lá fora
E estando eu dentro de uma casa
A chuva lá fora
Molha o meu olhar cá dentro
Secando a pouco e pouco o que me dói
O que eu sei que dói e eu sei porquê
O que eu sei que há cá dentro
Por nunca ter existido lá fora

Vivemos tão próximos de nós
Que nem nos apercebemos
De tão distantes que estamos da vida
Por viver tanto a vida
Não nos apercebemos de que não a vivemos
E no fim tudo o que dela recordamos
Foi o que afinal nunca vivemos
O que nunca quisemos mastigar
Tudo o que deixamos na borda do prato
Como um desperdício pelos outros

Senta-te e não te mexas
De que serve mexeres-te
Se tudo o que tu desejas é no fundo tudo o que consegues imaginar
Como podes tu desejar o que não imaginas?
Isso não é desejar, é mandar embora o aquecedor eléctrico
Para, no frio, desejares friamente um não-sei-quê que te aqueça
Senta-te no chão, estende-te ao comprido
Só o calor que está dentro de ti sentes confortável
(E no fundo não é nem calor nem frio)
Tudo o resto são queimaduras de fogos que não imaginas









Voz: Ana Rita Bastos

1 de Março de 2005

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