terça-feira, 24 de outubro de 2006

Bola

Amor, primeiro a coincidência do olhar, a incidência desse magnetismo semelhante ao dos planetas. Depois vem o rosto, gesticulando a promessa dessa beleza tão insuperável. Seguem-se os gestos, dando rosto a algo nobre e alto com as mãos orquestrando a valsa onde os nossos destinos se cruzaram.
Depois, o mundo cai-nos em cima, os olhos escondem-se, os rostos tapam-se, as mãos têm na sua pele a flôr dos nervos fervilhando, o ambiente da sala sufoca-nos, as vozes são ruído para os sentidos, uma unha a arranhar um tecido é um trovão, o bater de uma mesa contra a outra é um violento acidente de viação, o cair de uma caneta ao chão é forte demais para os tímpanos, e as palavras saem desconexas e voláteis.
Então brincamos, fingimos, fugimos ao assunto para ir ao encontro do riso, “o mundo é uma bola! o mundo é uma bola!” e gira comigo e contigo lá. O desejo? Esse é para quando somos grandes e maiores que o mundo e que os deuses, mas agora aqui somos crianças, o mundo é uma bola e nós cabemos bem nela e ela em nós enquanto bola que é, os deuses riem-se connosco e somos os dois maiores que o tempo.
Depois, a distância não se mede com réguas, uma parede é querermos ser maiores que nós, um amor perdido é um amor não tido, o mundo volta-nos a cair em cima, tentamos pô-lo por baixo e ele volta a rolar nos nossos pés, nós somos grandes, até ao próximo... Amor, primeiro a incidência do olhar, a coincidência do magnetismo, semelhante ao dos planetas. Depois vêm os gestos, dando rosto à promessa dessa beleza tão insuperável. Segue-se o rosto, gesticulando algo nobre e alto com os lábios sibilando o conto onde os nossos destinos se cruzaram.
Depois caimos em cima do mundo, os rostos escondem-se, os olhos tapam-se com as mãos: fervilham os nervos à flôr-da-pele, há no ambiente da sala ruído, as vozes sufocam os sentidos, um trovão é uma unha a arranhar um tecido, um acidente de viação é como duas mesas a baterem uma na outra, os timpanos não percepcionam a caneta que cai no chão, e voláteis ficamos desconexos das palavras.
Então tornamo-nos sérios, procuramos a razão, arranjamos temas para ir ao encontro da memória “o mundo é plano, o mundo é plano...” no qual sobrepomos os nossos planos. O amor? Esse é para quando somos pequenos e frágeis perante o mundo e os deuses, porque agora somos crescidos, o mundo é um plano no qual planeamos o nosso plano e rezamos aos deuses para que nos salvem a tempo.
Depois da distância percorrida notamos que foi no sentido inverso, uma parede intransponível é sermos maiores que a porta, um amor perdido é o que não chegamos a ter, voltamos a cair no mundo, tentamos pô-lo acima de tudo e ele volta a fugir debaixo dos nossos pés tal como os nossos planos, nós somos pequenos, até nunca...

1 Comentário:

Anónimo disse...

Li, reli e tornei a ler, e de todas as vezes encontrei paz* gostei imenso*

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