domingo, 3 de dezembro de 2006

Nem mesmo a esperança

Lembro-me de como te olhava. De como costumava passar os dias esperando o encontro do meu olhar com o teu. Quem és tu afinal? Tanto tempo passou e, eu que sempre julguei ter a resposta, respiro no ar a incerteza de tudo - até da mim - e a vontade de conseguir voltar a, pelo menos, esperar o encontro do nosso olhar. Caiu tudo o que éramos. Já nem o prazer de te olhar tenho, nem mesmo a esperança... Nem mesmo a esperança.
Será que poderia dizer que te amei? Penso que não, nada fiz para o merecer, eu sei. E agora tenho pena não ter tentado amar-te, porque isso seria pelo menos qualquer coisa. ("Não vês como é bom dizer eu tentei?") Eu não vejo, estou cego, estou cego e dói-me de uma forma intensa com um sabor de saudade que ficou por nascer, que ficou por ser feita, uma saudade que simplesmente nunca teve lugar além do meu sentir. Sentir é fácilmente difícil. Acredito que tudo passe por um processo enorme antes de acontecer, e o melhor é que nem nós nos apercebemos quando acontece, a vontade depois o desejo, a dor depois o sofrimento, o calor depois o suor, a sensação depois a percepção, o prazer depois o orgasmo - tudo isso faz parte de nós. E eu sou só um triste com pensamentos desconexos que já nem lógicamente as frases articula.
Para dizer a verdade ainda penso que te espero. Ainda penso em ti. Acredito no Destino e é por nele acreditar que sei que só há uma forma de sabê-lo: vivendo.
Por isso eu passo os dias na mesma triste alegria de viver, acreditando que cada respirar é motivo suficiente de orgulho próprio e que cada pessoa é algo bom e única por si mesma. Mas também neste humanismo transcendente sei com o tacto que estas duas mãos me dão que o homem é um ser de nojo e de pecado e que o nosso rosto tem duas faces tão distintas que só quem conhece a luz que o ilumina pode, passivamente, aceitar e compreender. Sou humano também, terrivelmente humano. Ás vezes sou deus. Mas nenhuma destas condições me proporcionam tudo o que é em ti Mulher.

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