sábado, 5 de novembro de 2005

Obessessao Do Gesto

Para quem foi esse aceno
Esse tão belo que adere
Esse gesto inédito e pleno,
Tão ávido quão célere

Talvez fosse só cortesia
A tua despedida tão cortesã
Quantas vezes a usas ao dia?
Comigo, ela não foi vã!

Teria esse gesto desenhado,
O rasto da tua saudade?
Não, olha-me, diz a verdade?
Comigo por ti tens sonhado?

Eu por ti sonho, e saudade
Ah! Quanto me fere e engole!
Gesta em mim uma paixão mole,
Que me adoça a vontade.

Mas diz-me, do teu gesto
Quanto dele foi manifesto
De uma vontade posta a gosto?
Um desejo que adoça rosto!

Que adoça o coração
Mas faz moça este chão
Faz, não faz?
Enquanto o fixas no caminho,
Na leve imaginação, sozinho,
O sonho rouba a paz,
E nada é capaz,
Nem mesmo a saudade,
Pura de mais, que á vontade,
Lhe rouba o tempo fugaz.

Abraça-me e diz-me que esse aceno
Foi um despertar de algo em ti.
Eu sei, senti no teu rosto, o que vi,
Foi o nascer de algo em pleno.

O que foi então esse aceno?
Esse que aqui se me gravou,
Esperava-o a tua alma o soltar?
Em mim, ele tudo agravou!
Gerou o desejo doce e ameno,
Gerou não mais que a vontade de amar.

Para quem foi esse aceno
Esse tão belo que adere
Esse gesto inédito e pleno,
Tão ávido quão célere

Era de mim que te despedias,
Banal gesto de cortesia
Ou era um adeus de saudade
Àquele que em sonhos te invade

Não sei se em ti eu altero,
O bater do teu coração,
Em mim, é um exagero!
Quase desenha um caixão!

Não foi a sedução
de um gesto,
Afogado na não-sedução de um corpo.*
Foi a saudação
de um rosto,
Afogado na despedida de um gesto absorto.

Mais romance que em Kundera!
Foi o sonho completo pelo rosto...
Nunca a realidade metafísica tivera,
Excepto nesse segundo ao qual me prostro.

*Opus cit. A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera.

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