sábado, 4 de março de 2006

Não vou ficar mais uma vez acordado,
Na espera intermitente do descanso.
Gastando, passo a passo, o passado,
Passando sem ficar nesse avanço.

Olhando o valor que subestimo,
Fico pasmo na imobilidade,
Amo e acredito no abismo,
Ser: não mais que a vaidade.

Algo cai quando em nós caímos,
Valsam as vidas como folhas caídas,
Então a voz é música que ouvimos,
No murmurar tépido das vidas.

Nevoeiro espesso que me cega,
Nada impede, conforta a novidade
Do que vem, do que se entrega
Ao desespero silencioso da verdade.

Caminho o caminho a traço e não sei
Onde estou, quem eu sou, onde vou;
O que de mim para trás deixei,
E lá sei tudo o que agora não sou.

Onde estás, onde fiquei é quem lá
Se espera, sem vir porque já foi;
O que de mim para trás ficou,
E lá sei tudo o que agora não fui.

Abraço a braço, o traço de cada e todo firmamento,
Caminho vasto,
Imune o olhar ao sentimento
Do espaço que se gasta, a cada gesto.

Algo está a perfurar tudo o que existe,
Na calma que explodirá, na raiva irada,
Chamo algo em silêncio, pelo nada,
Chamo a chama que arde no despiste.

Pele, carne, osso que compõe,
A nossa fantasia de existir.
E a nossa maravilha está no ir,
Na valsa do bem que se dispõe.
A falsa realidade se nos opõe,
No sonho que está porvir.
Mas a verdade fala, sem sentir,
O que o olhar procura, ao mentir.

Tanta, tanta piada que lhe acho
À nossa representação quotidiana.
Os actos os prazeres que despacho,
Ao encontro da forma que nos ama.
As poses e posturas automáticas,
As vozes as figuras nada práticas.
Tudo pelo aprazimento de uma fama
Que o uso do tempo, o desuso, chama.

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