domingo, 4 de setembro de 2005

Outro


Encontramos a Humanidade só num só. Presa em si, raramente expressando sentimentos em relação à natureza que a rodeia, expressando apenas pensamentos em relação à natureza que a compõe. Até mesmo quando se experimenta um sentimento de totalidade e paz interior, esse sentimento traz consigo, consequentemente, nostalgia e reflexão interpessoal.
Nós somos um ser social. Toda a gente o admite. A ideia de um homem completamente isolado torna-se ridícula quando nos apercebemos que é inexistente a capacidade de pensar sem nos basearmos numa vivência colectiva ou numa ideia de colectividade. Porque será que as pessoas reflectem sobre pessoas? Social ou psicologicamente estamos sempre a pensar para os outros, pelos outros ou com os outros. Até mesmo a busca interior da nossa verdade ou existência é indissolúvel dos outros. Quando pensamos na razão do nosso nascimento pensamos na razão porque dois seres anteriores ao nosso ser se uniram. Pensamos na razão porque estamos tão ligados uns com os outros, ao ponto da necessidade de união para que prossiga a criação.
Da mesma forma que a vida, a questão da morte prende-nos inevitavelmente ao outro. Quando se trata de pensar na morte o primeiro pensamento que nos ocorre é a forma e o momento. É um pensamento claramente egoísta. Mas rapidamente analisamos o caçador da nossa vida (o caçador da forma de morte), ou mesmo aqueles que contribuíram nas relações que nos levaram a esse momento e forma de morte. Depois, pensamos nas reacções tidas por aqueles que, em vida, interagiam connosco. Quem vai chorar por mim no momento do meu funeral? E daquele que chora, qual deles será mais real? Qual será o motivo do seu choro? Será real essa tristeza? Ou será apenas a percepção de que também ele acabará por morrer? E como continuará a vida na terra sem mim? Não pensamos nos rios e no sol e nas montanhas e nos ventos, que não irão interromper o seu processo cíclico por nós! Tal como os animais, mesmo com os da sua espécie, não param a sua função, o que por vezes connosco acaba por ser um factor de mudança. Nós somos os únicos aos quais a morte faz alterar a trajectória, e somos os únicos que não pensamos tão-só na morte, mas no nosso funeral.

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