terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Tens a tua vida à tua frente
E tu limitas-te a olhar para ela assim
E dizer-lhe "minha filha, estás tramada.
Eu não te posso dar nada.
Tu é suposto saberes o que é melhor para mim."

E ela fica a olhar para mim
Com aquela carinha de sonsa
Mas eu tenho de a aturar porque sem ela
Eu não podia andar, nem respirar, nem ouvir
E há tantas vozes ao fundo
Que eu quero ouvir, por isso vivo.

"Minha filha, olha que eu estou a falar contigo,
Não vou ser eu quem te vai sustentar nesses delírios
De te guardares de mim como se fosses um presente de natal
Que eu só devia abrir amanhã. Eu vou tirar-te o laçarote
- Que por acaso é bem piroso - e ver o que tu tens aí
É para mim, claro que é meu, não te vou deixar guardá-lo
Como um mistério ausente que o tempo revela"

Apetece-me chamar-lhe nomes, às vezes.
Estou farto do seu silêncio
E do seu rosto de juíza final
De quem nos atribui a honra e a coragem
E eu só queria deixar-me cair na contradição
De a viver toda feliz e pelas razões erradas

Por isso eu despeço-me do bom senso
Da sua moralidade acutilante
Dos seus conceitos de lealdade e precaução
Aqui vai, sou eu assim e ainda respiro
Sem toda a tua ubiquidade e vastidão
Sou eu erguido em todo o meu Ser
Maior que o tempo e que o perder
Eterno na minha camisa de vestir por casa
De cigarro na mão e sem pensar na vida
A pensar no que me interessa pensar

No dia de amanhã

E depois desse

Na claridade das portas fechadas
E no escuro infinito das janelas abertas
E às vezes dizer Olá às pessoas para não estar sozinho
E os outros saberem.

"Minha querida,
Isto és tu também, Vida,
Mas assim não me interrompes a meio
Está calada, caladinha.
Não me fales à noite na cama a dizer que estou errado
E que o que eu faço contigo não se faz.
Não te esqueças que quando eu morrer
Tu também vai desaparecer."

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