quinta-feira, 2 de junho de 2005

Os Seios

Os Seios não são um lugar,
Nem tampouco um subterfúgio
Das horas enferrujadas pelo mar
Dos que vivem sem refúgio.

Carregam na cabeça o peso de sentir,
Os olhos em ameaça, os lábios a sorrir.
Vêem no vazio um peso diferente
E são livres de esvaziar a mente.

Olham horizontes sem ver,
Encontram-se em qualquer gesto,
Filhos sem dó nem rosto,
Por quem os deixou a morrer.

Abrem sempre conversa
Com som e silêncio à mistura,
Orquestram palavras de amargura,
No desespero da alma perversa.

Os Seios do amor e do ódio,
Frágil descompostura que o repúdio,
Ora chama, ora incendeia,
Junta os Deuses no seu concílio,
Aprisiona o resto na teia.

Escrivãs de escritas vãs do que é Fado,
Almas sãs, corpos imundos de pecado.
Armada atenta ao afrontar áspero
Da fronteira entre a mão e o outro lado.
E quem seria Homero?

Os Seios entre o ir e o voltar,
Entrincheirados na razão e na mão
Dos corpos enferrujados pelo mar,
Dos que vivem pelo coração.

Contam horas e minutos,
Segundos e batimentos do amar,
O que é coração para muitos
Para outros são corpos a balançar.
E o que irão alcançar?
E o que irão encontrar?
As nossas mãos e o nosso gesto?
A nossa mente e o nosso resto?
O nosso corpo e o nosso rosto?
Serão forças estas linhas,
Que escrevo como quem caminha
Fora da sombra da razão,
Fora da hora habitual,
Este corpo que mora no chão,
Tem asas para outro local?

Mas não são lugar Os Seios,
Não são se não o que são:
Segundos de embriagado receio
Que nos prende a alma ao chão
E nos ferra no corpo o seu freio.

Foge a alma e leva o corpo,
Para onde tu fores eu vou,
Estar perdido é estar morto,
Que é um não estar do que sou.

Os dois pólos que não se atraem
Como dois amantes que se traem,
Mas os mesmos pólos se aproximam
No ciúme dos amantes que sibilam.
Ó meu deus que paradoxo,
Onde deixamos nós a harmonia
Que destes à pomba ou ao mocho,
Porque vacilamos entre a melancolia,
E a alegria? Porque nos despojaste assim
Na floresta sórdida do principio e do fim.

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